A Cerimônia da Deusa Ceres é um dos eventos mais aguardados pelos profissionais das ciências agronômicas do Estado de São Paulo. Organizada pela Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo (Aeasp), a solenidade, realizada anualmente – desde 1972 –, reúne engenheiros agrônomos e suas famílias, autoridades e representantes do agronegócio em uma premiação aos profissionais que se destacaram nas áreas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), Defesa Agropecuária, Pesquisa, Ação Ambiental, Ensino e Iniciativa Privada, bem como ao Engenheiro Agrônomo do Ano.
Realizada no dia 2 de maio, durante a 25.ª edição da Agrishow, a solenidade deste ano foi marcada pela emoção, que tomou conta do auditório lotado com mais de 400 pessoas. “Esse evento da Deusa Ceres, que a Aeasp promove, é muito importante e de prestígio. Todos os anos participamos e nessa edição nos sentimos lisonjeados e orgulhosos por ter dois colegas da Secretaria entre os homenageados - Carlos Alberto De Luca, da CATI, e Marcos Landell, do Instituto Agronômico (IAC/Apta). Outro fato importante para nós é a realização dessa festa dentro da Agrishow. A premiação é uma valorização da categoria e um estímulo, principalmente para os jovens que participam, que podem conhecer a experiência de diversos profissionais, inclusive de alguns professores que marcaram essa profissão tão importante”, afirmou Francisco Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento (SAA), ressaltando que os profissionais das ciências agrárias tem um dom de Deus. “Eles têm esse dom de trabalhar com as plantas e sementes, contribuindo para aumentar a produção de alimentos, trabalhando com a natureza e melhorando aquilo que Deus criou. Parabéns a todos os homenageados e aos colegas da Secretaria e do Brasil”.
Segundo o presidente da Aeasp, Angelo Petto Neto, o evento é um momento de valorização de profissionais tão importantes para a sociedade. “Essa cerimônia é extremamente relevante para a Associação e a sociedade. Ela foi instituída por normas estatutárias e tem sido realizada ininterruptamente há 46 anos. Esta é a minha sexta edição da cerimônia à frente da Aeasp e me sinto muito gratificado. Tivemos a felicidade de, há alguns anos, ter trazido a cerimônia para dentro do evento Agrishow, por meio de uma cooperação estreita com a Secretaria de Agricultura, que nos permitiu utilizar o anfiteatro do Centro de Cana. Hoje, o público que participa é o da nossa categoria, que vem pela homenagem e valorização das pessoas que escolhemos. Indiscutivelmente todos os premiados são de altíssimo nível e competentes em suas áreas. Nos sentimos extremamente gratificados por homenagear esses homens e mulheres”.
Sobre as indicações dos premiados, Ângelo Neto afirma que qualquer engenheiro agrônomo pode ser indicado, à exceção dos que participam da diretoria executiva da Associação, à época da eleição, o que demonstra o caráter imparcial na escolha. “As indicações de nomes para cada categoria pode ser feita por qualquer associado, faculdades de agronomia, institutos e entidades ligadas ao setor, além de delegacias regionais. A escolha do premiado é feita por membros dos Conselhos Deliberativo e Fiscal e da Diretoria da Aeasp”.
Para o engenheiro agrônomo João Brunelli Júnior, coordenador da CATI, essa premiação é muito relevante. “Após mais de um século da implantação primeiro curso de Agronomia, os engenheiros agrônomos tiveram sua atividade transformada de “melhoradores da atividade agrícola” para atores de destaque no agronegócio, com papel fundamental na transformação social, econômica e ambiental que vem ocorrendo no meio rural, transferindo tecnologia e conhecimento aos produtores; mas, mais que isso, sendo articuladores e facilitadores, junto com outros profissionais da extensão rural, no acesso das famílias rurais às políticas públicas, ao crédito rural e instrumentos de inserção no mercado. Portanto ter uma premiação que reconheça o mérito desses homens e mulheres que têm que se reinventar constantemente, para acompanhar as transformações que ocorrem de forma cada vez mais veloz no agronegócio, é essencial e contribui para aumentar a autoestima de toda a categoria”, avaliou o coordenador, enfatizando sua alegria em ver o colega Carlos Alberto De Luca, sendo homenageado na categoria de Ater.
Categoria Ater: laureado foi Carlos Alberto De Luca, da CATI
Agraciado com a medalha Fernando Costa na área de Ater, o engenheiro agrônomo Carlos Alberto De Luca, diretor da CATI Regional Votuporanga, subiu ao palco com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso iluminado pela gratidão de ver o seu trabalho de 34 anos na CATI reconhecido por profissionais de todo o Estado. “É uma felicidade e uma surpresa muito boa receber esse prêmio, o qual faço questão de dividir com todos aqueles com quem trabalhei e trabalho. Ser agrônomo é mais que um título e uma profissão, é uma paixão que carrego por conta das minhas raízes rurais herdadas dos meus pais que vieram para o Brasil trabalhar na “roça”. Meu pai faleceu quando eu tinha 11 anos, por isso desde essa época eu comecei a trabalhar no sítio para ajudar meu irmão mais velho Miguel, que junto com nossa mãe Rosina, ficou com a incumbência de mantê-la para que tivéssemos sustento e estudo. A minha escolha pela Agronomia foi feita, por conta disso, para ajudar a manter a propriedade que meu pai comprou antes de eu nascer, com muito sacrifício e, também para ajudar outros produtores que precisassem de ajuda”.
Sobre o trabalho na CATI, De Luca, como é conhecido, relata: “Iniciei meus trabalhos na instituição no dia 1.º de fevereiro de 1984, como engenheiro agrônomo da Casa da Agricultura de Riolândia, município da região Noroeste do Estado. Apesar de ser um período em que o foco do trabalho era a produção agropecuária e a assistência direta para resolução de problemas de culturas e criações, desde os primeiros trabalhos com os produtores, pude colocar em prática a minha vocação extensionista, a qual foi aflorada durante a realização do Pré-serviço, curso que preparou toda uma geração para trabalhar na área rural de uma forma mais abrangente, olhando para o produtor com o beneficiário principal das ações. Neste curso que nos apresentou o mundo da Ater em São Paulo, tivemos palestras com técnicos de diversas áreas do conhecimento, como também com o educador Paulo Freire, que nos repassou muitos ensinamentos de como trabalhar com os produtores rurais na construção dos conhecimentos de acordo com a realidade e a necessidade de cada um”.
Confirmando a veia extensionista do agrônomo, o produtor Antônio Tanaka, da Estância São José, de Riolândia, fez questão de falar sobre o agrônomo, que, segundo ele, já se tornou um amigo. “Conheci o De Luca em 1989, quando fui visitar um pomar de uva na região, pois queria começar a trabalhar com fruticultura em Riolândia, o que não era muito comum. Ele me acompanhou, me incentivou e apoiou tecnicamente para a implantação da cultura da goiaba no meu sítio, me ajudando inclusive com a comercialização; e isso quando todo mundo falava que era loucura investir nessa atividade. Fomos na ‘cara e na coragem’ na Ceagesp e em supermercados locais oferecer a minha produção. Comecei vendendo 15kg, depois de pouco tempo estava vendendo 300kg e, hoje, não consigo atender todos os pedidos. E isso, digo com certeza, que não teria acontecido sem o apoio do De Luca. Hoje, apesar de ser diretor da Regional e não mais técnico da Casa da Agricultura, ele nunca negou um atendimento nem para mim nem para outros aqui da região. Ligo direto para ele, pois ele é muito humano, se importa de verdade com o produtor e não só com a cultura. Para mim De Luca é o nome da CATI!”
Para a esposa Cláudia Clemente De Luca, foi uma grande alegria ver o trabalho do marido reconhecido. “Estou muito feliz por este reconhecimento. Existe uma frase que diz: “quem trabalha com o que gosta, não trabalha, se diverte. Para mim essa frase define o Carlos, pois ele está sempre animado, com uma disposição invejável. Para ele, segunda-feira não é um dia de peso, pelo contrário, é um dia de recomeço. Eu atribuo a isto, ao seu amor à terra e à completude que ele sente no exercício de sua profissão. Sempre digo que, feliz é o jovem que, como o Carlos, ao chegar no vestibular, tem a certeza da profissão que deseja abraçar, pois assim serão pessoas realizadas e profissionais dedicados”.
Para José Luiz Fontes, dirigente da Assessoria Técnica da SAA, a homenagem ao agrônomo é muito justa. “Eu e o De Luca começamos a trabalhar na CATI na mesma época. Posso dizer que além de amigo, ele é um grande profissional que atuou com dedicação na Casa da Agricultura e também agora à frente da Regional. Outro trabalho muito importante que ele realiza é na Comissão Técnica de Seringueira da Secretaria, pois é um dos técnicos da rede que mais tem conhecimento sobre essa área. Parabéns à diretoria da Aesp pela escolha do seu nome para essa merecida homenagem”.
Emocionado, o engenheiro agrônomo Celso Roberto Panzani, do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes (DSMM/CATI) e integrante da Aeasp, que fez a entrega do prêmio ao agrônomo, ao lado do coordenador da CATI, falou sobre o amigo de longa data. “São tantas as coisas para dizer sobre ele, mas quero ressaltar que ele é um grande amigo, uma grande pessoa e um grande profissional. A CATI é conhecida e reconhecida graças aos De Lucas que existem nela. Nem todos sabem que São Paulo é o maior produtor de borracha do País, e que o De Luca contribui para a sucesso, pois é um grande especialista nessa atividade, que alia conhecimento com a vivência prática no campo”.
Solicitado a falar sobre um fato que marcou sua trajetória, De Luca, diz que é difícil elencar apenas um. “Tem sido tantos que não vou me arriscar a apontar algum. Mas com certeza, a convivência que tenho com os produtores e com os colegas da CATI e da Secretaria, sejam da área técnica ou da área administrativa é o que tem marcado minha vida. São tantas histórias... que a gente precisava de muitos dedos de prosa!”, diz entre sorrisos, mas lembrando do trabalho feito em uma propriedade na área de drenagem de várzea, que foi tão bem avaliado, que o credenciou a participar de um curso de especialização em irrigação e drenagem.
Breve currículo do homenageado
Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) - MG em 1982, Carlos Alberto De Luca nasceu em 11 de janeiro de 1960, em Barretos (SP). É filho de Miguel De Luca e Rosina De Crescenzo De Luca e casado com Claudia Márcia Clemente De Luca, com quem teve dois filhos: Fernanda Avelina Clemente De Luca e Carlos Alberto De Luca Júnior.
Em fevereiro de 1984, iniciou suas atividades como engenheiro agrônomo junto à Casa de Agricultura de Riolândia, da Delegacia Agrícola de Votuporanga. Em 1987, fez curso de especialização em irrigação e drenagem na Ufla, após realizar um trabalho reconhecido na área de drenagem de várzea, em uma propriedade da região. Em dezembro de 1995 foi transferido para a Delegacia Agrícola de Votuporanga, onde exerceu a função de supervisor sub-regional, até 1997, quando passou para a função de assistente de planejamento, junto à CATI Regional de Votuporanga, até 2007. Nesse ano, ainda foi nomeado diretor técnico de Divisão junto à Regional Votuporanga, cargo que ocupa até hoje.
Na área de assistência técnica desenvolveu projetos de fomento em Heveicultura – cultura da Seringueira no Planalto Paulista, onde se tornou especialista na instalação, cultivo, manejo e difusão de tecnologias para cultura da borracha no Estado de São Paulo.
Participa como membro da Comissão Técnica de Seringueira e da Câmara Setorial da Borracha de nosso Estado, desde 2007. Presidiu a Comissão Técnica de Seringueira de 2010 a 2014 e fez parte da Comissão Organizadora do evento “Ciclos de Palestras sobre a Heveicultura Paulista”. Atualmente, é o responsável técnico da CATI/SAA para os projetos da Cadeia Produtiva da Heveicultura.
Lista completa dos homenageados em cada categoria
Tsai Siu Mui - diretora do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) /Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz” – Universidade de São Paulo (USP)
Ação Ambiental
José Olympio Salgado Veiga - Precursor da política ambiental em vigor no Estado de São Paulo, atuou na implantação do Departamento de Proteção de Recursos Naturais (DPRN), da Secretaria do Meio Ambiente.
Assistência Técnica e Extensão Rural
Carlos Alberto de Lucca – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI)
Cooperativismo
José Antonio de Souza Rossato Júnior – Diretor-presidente da Coplana e vice-presidente da Socicana
Defesa Agropecuária
Antonio Tubelis – Professor titular aposentado da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e consultor agropecuário. Pesquisador da clorose variegada dos citros e do greening.
Ensino
Maria Helena Calafiori – Professora do curso de Engenharia Agrônomica na Unipinhal, que iniciou sua carreira na CATI, como estagiária na Casa da Agricultura de Socorro, onde atuou entre 1969 e 1970, por sua identificação com a área de extensão rural.
Iniciativa Privada
Maurício Palma Nogueira – Empresa Agroconsult
Pesquisa
Marcos Guimarães de Andrade Landell – Instituto Agrônomico (IAC)
José Flávio Machado Leão – Propark Paisagismo e Ambiente
Revista A Granja
Um pouco de história da premiação
O troféu “Deusa Ceres” – Engenheiro Agrônomo do Ano foi criado em 1972, pelo engenheiro agrônomo Cláudio Braga Ribeiro Ferreira (que atuou CATI, inclusive em uma Casa da Agricultura, e foi secretário de Agricultura e Abastecimento), à época presidente da Aeasp, com o objetivo de incentivar e valorizar o trabalho dos engenheiros agrônomos.
Do mesmo modo, em 1991, a entidade criou o “Prêmio do Mérito Agronômico”, com a entrega das medalhas “Fernando Costa”. O nome da medalha reverencia a memória de Fernando Costa, um grande realizador, ministro da Agricultura no primeiro mandato de Getúlio Vargas, também secretário de Agricultura e interventor do Estado, reconhecido por sua luta em prol dos interesses da agronomia.
Em 1994 foi criada a medalha Joaquim Eugênio de Lima, para homenagear engenheiros agrônomos ligados à área de paisagismo ambiental.
Ceres: símbolo da agricultura
A deusa Ceres cultuada pelos romanos é, na mitologia grega, Deméter, a divindade da Agricultura e da Fecundidade da terra. Seu culto foi introduzido em Roma no século V, antes de Cristo, quando recebeu o nome de Ceres. Todas as lendas sobre Ceres referem-se ao seu caráter agrário que, de forma poética, procuram explicar fenômenos ligados ao cultivo da terra.
Deusa do trigo e dos outros cereais, Ceres ensinou aos homens a arte de arar, plantar e de colher, e ensinou às mulheres a arte de fazer pão. A palavra cereal é derivada do seu nome. Os romanos dedicavam inúmeras festas em sua homenagem, que eram realizadas de acordo com as estações do ano e representavam as épocas de plantio, de cultivo e da colheita dos cereais.
Mais informações: (19) 3743-3870 ou 3743-3859