Durante as festividades dos 136 anos do Instituto Agronômico (IAC), realizadas em 27 de junho, a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), o IAC e a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) Regional, ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), firmaram parceria para condução de ações de pesquisa, gestão da difusão e transferência de tecnologia para os agricultores.
“Este acordo está centrado na disponibilização de mudas sadias das principais cultivares IAC de batata-doce e mandiocas de mesa e indústria, com alta qualidade sanitária e livres de bactérias e vírus. Para tanto, a CATI Sementes e Mudas receberá o material básico de mandioca para proceder à limpeza, multiplicação e posterior divulgação. No caso da batata-doce, a CATI somente fará a multiplicação e divulgação das novas variedades”, explica Francisco Martins, coordenador da CATI, que assinou o acordo juntamente com Celso Roberto Panzani, diretor substituto da CATI Sementes e Mudas, o qual também foi assinado pelo secretário de Agricultura e Abastecimento, Antonio Junqueira, e pelas demais autoridades representantes das entidades envolvidas.
De acordo com Marcos Landell, diretor do IAC, o acordo prevê também o fortalecimento e fomento ao programa de melhoramento genético de mandioca e de batata-doce do IAC, para melhor atender às constantes demandas relacionadas aos produtos dessas cadeias.
Mandioca: limpeza, multiplicação e divulgação ficarão a cargo da CATI Sementes Mudas
Segundo Celso Panzani, o acordo assinado é fruto de uma parceria de longa data entre a extensão rural e a pesquisa, haja vista que, na cultura da mandioca, a CATI atuou fortemente na difusão da Cultivar IAC 576-70, na década de 1980, que se tornou a variedade de mesa mais plantada no Estado de São Paulo e talvez no Brasil.
“A importância do acordo firmado e oficializado entre a CATI, o IAC e a APTA Regional, com apoio da Fundag, reforça o compromisso dos órgãos de extensão rural e pesquisa da Secretaria de Agricultura com a segurança alimentar e com a qualidade fitossanitária do material disponibilizado aos produtores para o cultivo e produção desse alimento saudável aos consumidores. No que diz respeito ao material genético da mandioca, faremos a limpeza em nosso laboratório de micropropagação, sediado em Tietê, que tem tecnologia e conhecimento reconhecidos para produção de mudas micropropagadas”, pontua Celso Panzani, que a limpeza consiste na eliminação de bactérias e vírus, visando à produção e disponibilização de mudas e/ou manivas de mandioca livres de patógenos que comprometem a qualidade e a produtividade das lavouras.
Laboratório de Micropropagação da CATI Sementes e Mudas
“Após o processo de limpeza do material - que deve aumentar em cerca de 30% na produtividade -, faremos a instalação de áreas demonstrativas em diferentes regiões paulistas, onde serão realizados Dias de Campo para divulgar as novas varieddades e mostrar a diferença entre a produção utilizando material contaminado com a produção com material sadio no plantio de mandioca. Posteriormente, faremos a divulgação das tecnologias e do potencial de cada cultivar, depois a multiplicação de mudas e/ou manivas para atender à crescente demanda”, salienta Celso Panzani, ressaltando a importância do trabalho da CATI Sementes e Mudas e das ações de Extensão Rural e da Assistência Técnica (Ater) aos produtores rurais.
Pesquisador responsável pela condução dos estudos com mandioca no Centro de Horticultura do IAC, José Carlos Feltran também fala da importância do acordo. “A ideia deste convênio é resgatar um trabalho conjunto de anos, quando o IAC disponibilizava o material genético e a CATI produzia sementes. O remodelamos e agora faremos a transferência do material e a CATI, após a limpeza, produzirá em escala para atender à demanda”.
Sobre a produção no estado, Feltran traça um panorama que demonstra a importância e urgência dessas ações coordenadas pela Secretaria de Agricultura. “O cultivo da mandioca de mesa está espalhado em todo o âmbito paulista, conduzido, principalmente, por agricultores familiares em pequenas áreas, que alcançam uma média entre cinco e oito mil hectares. Nos últimos sete anos, identificamos um aumento na demanda, no caso da mandioca de mesa, pelo produto descascado e embalado, principalmente pelo uso da cadeia do frio e a praticidade desejada pelos consumidores”.
Ainda sobre o panorama da cultura, Feltran revela que o plantio de mandioca para indústria tem um traçado um pouco diferente. “O cultivo para indústria está mais concentrado na região do Médio Paranapanema, abrangendo cidades como Ourinhos, Assis,Tupã, Martinópolis, Parapuã e Presidente Prudente, a qual conta com um grande número de indústrias de farinha e fécula. Um segundo polo está na região de Araras, que conta com grandes produtores e área maiores de cultivo”, informa o pesquisador, comentando que área de plantio para indústria está entre 45 e 60 mil hectares no estado.
Nesse contexto, as cultivares que serão disponibilizadas para a CATI têm alta produtividade, maior índice nutricional, maior índice de matéria-seca (que beneficia a indústria, pois aumenta a produção de fécula e farinha), maior resistência às bactérias e viroses, sendo elas: mandioca de mesa – a tradicional IAC 576-70; IAC 28 Bruta; IAC 601 Vitaminada; e para indústria – IAC 90 e IAC 118-95.
“A novidade é que as cultivares de mesa são ricas em betacaroteno (que se transforma em vitamina A no corpo humano), essencialmente a IAC 601 Vitaminada, que tem próximo de 800 UI (unidades internacionais) de vitamina A por 100 gramas de raízes, tendo um papel fundamental para a segurança alimentar, principalmente entre as crianças e população vulnerável. Nas da indústria, a novidade é o aumento da matéria-seca. Outro fator está ligado ao fato de que constatamos que a quase totalidade de mandioca plantada não está livre de patógenos, o que implica baixa produtividade, por isso as novas variedades têm alta sanidade e qualidade genética, para que os agricultores tenham ganhos produtivos e, consequentemente, de renda”.
Batata-doce: acordo possibilitará disponibilização de novas cultivares altamente nutritivas e produtivas para os agricultores paulistas
Nos últimos anos, a batata-doce ganhou status de excelente alimento, principalmente entre atletas e praticantes de exercícios físicos. No entanto há muito tempo os benefícios dessa raiz são conhecidos na segurança alimentar.
A batata-doce é cultivada em todas as regiões do Brasil, que não ocupa um lugar de destaque entre os maiores produtores mundiais (China, maior produtora; seguida por Malawi, Nigéria e República Unida da Tanzânia), mas é o maior produtor da América Latina, com uma produção de 847.896 toneladas, em área colhida de 59.481 hectares (IBGE,2020).
O Estado de São Paulo é o maior produtor com 182.759 toneladas, em 10.153 hectares (IBGE, 2020). Com a maior área de plantio localizada nas regiões de Presidente Prudente, Araçatuba, Tupã, Jaboticabal e Dracena, São Paulo tem, além de produção, o maior índice de produtividade por hectare do país. “A produtividade média de batata-doce, no estado é de 18 toneladas por hectare, ou seja, 26,27% superior à média do Brasil, que é de 14,25t/ha”, informa Valdemir Peressin, pesquisador responsável pelas pesquisas de batata-doce no Centro de Horticultura do IAC, ressaltando que esses dados estão muito ligados às cultivares desenvolvidas pelo Instituto, que tem alta produtividade e qualidades sanitária e genética.
Outro ponto destacado pelo pesquisador, que diferencia as cultivares desenvolvidas pelo IAC, é alto teor de betacaroteno, que aumenta (e muito) o valor nutricional da batata-doce. “A vitamina A é de grande importância para o funcionamento adequado do sistema imunológico, para a visão, entre outros benefícios no corpo humano. Durante as pesquisas, detectamos que a maioria das cultivares disponíveis tem baixo nível de vitaminas. Por isso, após diversos cruzamentos realizados entre diversos materiais, chegamos a cultivares com altíssimo índice de betacaroteno e outros nutrientes. Isso é grande ganho para alimentação e saúde das pessoas”. Segundo Peressin, seis cultivares serão disponibilizadas para a CATI, com destaque para a IAC 134 AL01 (rica em betacaroteno) e a IAC AMETISTA (rica em antioxidantes).
Prato elaborado com a IAC 134 AL01 foi servido na celebração dos 136 anos do IAC
De acordo com Celso Panzani, pelo fato de os materiais já serem entregues limpos (a limpeza foi realizada pela equipe do laboratório de micropropagação do Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto), o trabalho da CATI Sementes e Mudas será concentrado na multiplicação e posterior divulgação das variedades desenvolvidas pelo IAC. “Instalaremos campos demonstrativos das cultivares nas principais regiões produtoras, onde realizaremos eventos para apresentar o potencial de cada variedade aos produtores rurais. Paralelamente, em nossas unidades regionais de Pederneiras e Itaberá, iniciaremos os trabalhos de multiplicação das ramas, para produção de mudas de batata-doce em larga escala, com qualidade genética e sanitária”.