CATI-SP

Expedição Caminhos da Semente: restauração e rede de sementes de São Paulo

Expedição Caminhos da Semente teve a CATI como uma das instituições convidadas, com a presença de seis de seus técnicos 

 

A edição 2023 da Expedição Caminhos da Semente: restauração e rede de sementes de São Paulo, realizada entre os dias 11 a 14 de setembro, envolveu diversas instituições com o objetivo de dar escala à restauração da vegetação nativa no Brasil, com foco no método da semeadura direta. Instituição convidada, a CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, marcou presença com o envio de seis técnicos à Expedição, que tiveram a oportunidade de compartilhar experiências, obter informações sobre os fluxos e grupos sociais envolvidos na cadeia produtiva de sementes e acompanhar o progresso de áreas de restauração da vegetação nativa. 

 

 

A edição deste ano da Expedição foi composta por três rotas - Vale do Paraíba, Vale do Ribeira e Noroeste Paulista, que partiram simultaneamente de áreas distintas do Estado de São Paulo e se encontraram na Fazenda Monjolinho, em São Carlos, percorrendo mais de 2.700km. A CATI esteve presente em todas as rotas, representada por técnicos do Departamento de Sustentabilidade Agroambiental, da CATI Sementes e Mudas e da CATI Regional São José do Rio Preto. A APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) também esteve representada na Rota Noroeste Paulista, pela pesquisadora Maria Tereza Abdo Rodrigues.

 

 

 

Rota do Vale do Paraíba 

A Rota do Vale do Paraíba iniciou-se na cidade de Cruzeiro, onde foram visitadas áreas de muvuca no Sítio Água Limpa e no Sítio dos Ipês, que mostraram as possibilidades de utilização da técnica para restauração de áreas de preservação permanente (APP) e de áreas de morros, em sistemas agroflorestais.  

Acompanhando a visita técnica, o Sindicato Rural de Cruzeiro e Lavrinhas reforçou a importância da técnica para os projetos de regularização ambiental das propriedades rurais, no âmbito do Cadastro Ambiental Rural (CAR). No dia seguinte, a Expedição seguiu para o Assentamento Conquista, na cidade de Tremembé, onde os técnicos puderam interagir com coletoras e coletores de sementes e aprender mais sobre seu beneficiamento e sobre a possibilidade dos próprios plantios fornecerem, nos anos seguintes, mais sementes para outros projetos.

“A técnica de restauração com muvuca de sementes pode ser utilizada para se produzirem alimentos enquanto se promove a restauração das áreas com vegetação nativa, à medida que possibilita, já no primeiro ano, a colheita dos produtos da adubação verde, como o feijão guandú, dentre outras possibilidades”, destaca Carolina Matos, diretora do Departamento de Sustentabilidade Agroambiental da CATI. No mesmo dia, os participantes se dirigiram para Piracaia, onde tiveram a oportunidade de visitar um projeto de restauração utilizando muvuca de sementes, elaborado pela Serra Ambiental para um dos reservatórios que abastece a cidade de São Paulo e que, em breve, terá atingido os parâmetros adequados para o restabelecimento dos processos ecológicos na área. 

 

 

Já na quarta-feira, visitou-se o viveiro de mudas e o projeto de restauração ambiental da Usina São João de Araras, chamado “Margem Verde”, desenvolvido em parceria com a Implantar. A Usina é signatária do Protocolo Etanol Mais Verde e abriga um dos plantios mais antigos com muvuca no âmbito paulista, implantado em 2007, e que hoje se tornou uma mata exuberante, responsável pela manutenção da biodiversidade local.  

"A Expedição Caminhos da Semente proporcionou um conhecimento e aprendizado sobre a semeadura direta no solo, método viável na restauração de vegetação nativa em diversas regiões paulistas. Podemos agregar essa técnica nos trabalhos de extensão rural realizada pela CATI", observou Anderson Watanabe, assistente agropecuário do Núcleo de Mudas de São Bento do Sapucaí. 

 

Rota Vale do Ribeira 

A Rota Vale do Ribeira abrangeu visitas a áreas com realidades e paisagens bastante distintas, além de ter oferecido aos participantes a oportunidade de conhecer diversos elos da cadeia de coleta, beneficiamento e plantio de sementes.  

A rota teve como ponto de partida o município de Eldorado, nas proximidades de grandes áreas protegidas e áreas de Povos e Comunidades Tradicionais. O primeiro local visitado foi o Quilombo Nhunguara, onde os participantes puderam conhecer o trabalho de coletores e coletoras que formam a Rede de Sementes do Vale do Ribeira.  

“Este trabalho, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), desde 2017, tem contribuído para levar mais renda e fortalecimento da autoestima, sobretudo de mulheres e jovens da comunidade, que descobriram na coleta de sementes uma forma de obter autonomia financeira e compartilhar saberes em relação à floresta”, descreve Everton Ferreira, especialista ambiental do Centro de Biodiversidade e Manejo Ecológico do DSA/CATI.  

No quilombo, também foi visitada a Casa de Sementes, recinto climatizado construído a partir do barro e de pedras da região, em resgate à cultura tradicional, onde são armazenadas as sementes coletadas pelos quilombolas.

 

 

No segundo dia, os participantes da rota visitaram uma área de restauração no interior do Parque Estadual do Rio do Turvo, num local anteriormente ocupado por pastagens que atualmente pertence ao Instituto de Pesquisas Ambientais, da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística. O projeto de restauração, iniciado em 2021, se utilizou da técnica de semeadura direta, realizada a partir de sementes oriundas dos quilombos da região. Na sequência, já no município de Pilar do Sul, os participantes conheceram as instalações do Instituto Refloresta, instituição não governamental dedicada à reposição florestal, restauração florestal, educação ambiental, reflorestamento e produção de sementes e mudas. Ainda do segundo dia, os participantes se dirigiram até o laboratório de germinação de sementes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Sorocaba, onde foram recebidos pela profa. Dra. Fátima Conceição Márquez Piña Rodrigues, que, juntamente com sua equipe, compartilhou informações sobre pesquisas que vêm sendo desenvolvidas na área. 

No terceiro dia da expedição, os participantes puderam observar o progresso da restauração da vegetação nativa de duas áreas que se utilizaram da semeadura direta. Na primeira delas, implantada em 2021, em imóvel rural localizado em Boituva, foi feita uma apresentação do processo de dispersão de sementes com o uso de drone adaptado para este fim. Na segunda área, localizada em imóvel rural dedicado à produção de orgânicos em larga escala, em Itirapina, foi possível observar uma área de muvuca em processo de implantação mais recente (18 meses), mas já com a presença de várias espécies regenerantes. 

Marcos Augusto Franco, Diretor do Centro de Mudas da CATI Sementes e Mudas, chamou atenção para a possibilidade de estabelecer parcerias com as redes de coletores de sementes, que tem um trabalho social extremamente importante em diversas regiões paulistas, e o que pode ser desenvolvido em conjunto com as entidades participantes da Expedição, em termos de desenvolvimento de protocolos e de cooperação técnica. “As diversas técnicas utilizadas na instalação dos projetos de muvuca e seus resultados puderam ser vistos em experimentos com variadas idades, o que contribuiu de forma muito didática com o aprendizado dos participantes”, completou o diretor. 

 

Rota Noroeste 

A Rota Noroeste consistiu em visitas a diversos municípios (Olímpia, Adolfo, Promissão, Borborema, Espírito Santo do Turvo, Laranjal Paulista e São Carlos). Na Fazenda Santa Cruz,, em Olímpia são 32 hectares de Muvuca, plantados em novembro de 2022, com bom desenvolvimento. Em Adolfo, em área da Usina Santa Isabel, foram visitados sete hectares de muvuca, com plantio em final de 2019 e início de 2020. O desenvolvimento foi excelente, mas verificou-se dificuldade no controle da espécie mucuna.  

Também foi comparada a técnica com o plantio de mudas ocorrido na mesma época, também muito bem estabelecido. Em Promissão, foi visitado o Sítio Botelho, no assentamento Reunidas, onde o proprietário trabalha com sistema agroflorestal sucessional com culturas agrícolas, nativas e madeireiras em pastagem abandonada.  

Em Borborema, foi realizada visita na Fazenda São João, com acompanhamento pelo financiador do projeto, que é a empresa AES, e comparados plantios de mudas em dois espaçamentos diferentes e a muvuca em diversos sistemas, que foi acompanhada pela UFSCar em uma tese de doutorado.  Em Espirito Santo do Turvo, visitou-se plantio com muvuca feita a lanço, de forma mecanizada, em área de 35 hectares de APP, com plantio em janeiro de 2022. Em Laranjal Paulista, visitou-se o coletor de sementes Zé da Lena e sua família, que explicou sobre as técnicas de coleta e beneficiamento. 

Eduardo Gazola, assistente agropecuário do Núcleo de Mudas de Marília, destacou a contribuição da iniciativa na divulgação de novas possibilidades de restauração da vegetação nativa: “A Expedição foi, para mim, o primeiro contato na prática e no campo de restauração feita por sementes, pelo método muvuca. Até então, como produtores de mudas, só havia trabalhado com restauração por mudas. Além disso, também me despertou para a importância de apoiar a formação de coletores de sementes no Estado de São Paulo, principalmente nas regiões oeste e noroeste, onde não existem redes de coletores de sementes”, disse.

 

 

Fernando Miqueletti, assistente agropecuário da CATI Regional São José do Rio Preto, complementa dizendo-se extremamente satisfeito em poder participar da Rota. “Foram de grande valia as visitas e a troca de conhecimento entre os organizadores e participantes. Vejo que temos uma grande opção de restauração com a muvuca de sementes, a qual pode contribuir muito no âmbito da restauração dos imóveis com passivo no Estado de São Paulo, aliada a outras técnicas de restauração já conhecidas e estabelecidas. Será muito importante compilar os dados já existentes sobre esta técnica e repassar para a nossa rede de colaboradores, assim como apresentar esta opção aos produtores do estado”, observou. 

Ao final da Expedição, na Fazenda Monjolinho, em São Carlos, os participantes das três Rotas compartilharam experiências, observaram o progresso de áreas de plantio com semeadura direta, implantados em diferentes datas, e encerraram o encontro com uma aula prática de execução conjunta de uma muvuca de sementes e plantio em covetas com uso da semeadura direta. “A vivência de quatro dias possibilitará a difusão da técnica de restauração para a rede CATI e para os produtores rurais, bem como permitirá que possamos firmar futuras parcerias para a recomposição da vegetação nativa em nosso estado, com ganhos para todos”, finaliza Carolina Matos, do Departamento de Sustentabilidade Agroambiental. 

Coordenada pela Agroicone, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a iniciativa Caminhos da Semente conta com o apoio técnico e financeiro do programa Partnerships For Forests (P4F), do Reino Unido, além do apoio de diversas organizações parceiras.