Programa é parceria entre instituições da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e vem sendo desenvolvido no Centro de Produção “Ataliba Leonel”, da CATI Sementes e Mudas, em Manduri
Com cerca de uma tonelada, Marabá caminha cercado das matrizes de Nelore e seus bezerros. É um touro da raça Nelore que deve ser pai de parte da prole que nascerá no último trimestre deste ano de 2023 – parte apenas, já que todas as fêmeas passam pela inseminação artificial.
Do lado de fora da cerca, um touro cinzento − tão Nelore e tão grande quanto Marabá − reclama o harém que não mais lhe cabe. Marabá chega com toda sua carga genética e relega o touro cinzento a um passado de dias de glória de um reprodutor. Cabeça a cabeça, crânio a crânio, esturro a esturro, os dois se embatem, separados somente pela finura do arame; separados, de vez, pelos peões, antes que o estouro se dê.
Se a história do gado poderia dar enredo de novela, não se sabe, mas na toada em que a boiada é conduzida pelo pasto, num dia ensolarado no Centro de Produção “Ataliba Leonel”, em Manduri, interior de São Paulo, segue também, com eles, o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore Mocho.
Realizado no Centro de Produção “Ataliba Leonel”, o Programa é cria de uma parceria entre instituições da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado: a Unidade Regional de Pesquisa e Desenvolvimento de Andradina, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) Regional, e CATI Sementes e Mudas, departamento da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI).
O trabalho, que teve início na Regional de Andradina da Apta, sob coordenação do pesquisador científico Gustavo Mateus, foi retomado há dois anos, quando os primeiros animais de Andradina chegaram à Fazenda do Estado em Manduri. Atualmente, com aproximadamente 150 animais, entre matrizes e reprodutores, na área de Integração Lavoura e Pecuária (ILP) do Centro de Produção “Ataliba Leonel”, pertencente à CATI Sementes e Mudas, o Programa com o rebanho experimental de bovinos Nelore Mocho conta com o apoio do Instituto de Zootecnia (IZ-Apta) e da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ).
“A filosofia do Programa de Melhoramento Genético é não apenas fixar a característica mocha”, explica o médico veterinário Braz Costa de Oliveira Júnior, responsável pelo Programa e diretor do Centro de Produção da CATI Sementes e Mudas de Avaré, sobre o desejo do mercado por um rebanho sem chifre. “A característica mocha melhora o manejo com as pessoas, facilita o transporte, mas, dentro do Programa, também buscamos características produtivas, reprodutivas e de qualidade de carcaça”, diz.
“É material genético testado e melhorado nas nossas condições de produção, algo que falta ao produtor. Isso agrega no aumento de rentabilidade”, aponta o pesquisador científico do IZ-Apta, Aníbal Eugênio Vercesi Filho.
Em setembro de 2022, durante a celebração dos 64 anos da Fazenda “Ataliba Leonel”, foi assinada a minuta do trabalho contínuo sob regime de parceria entre as instituições da Secretaria de Agricultura e Abastecimento envolvidas neste projeto científico. “Na estabilização deste projeto, daqui a 12 a 18 meses, estimamos ter 500 animais no Programa de Melhoramento Genético”, observa Fernando Alves dos Santos, diretor do Centro de Produção “Ataliba Leonel”.
Originária da Índia, por sua alta adaptabilidade ao clima tropical, a raça Nelore responde por 80 % do rebanho brasileiro para pecuária de corte. “Nosso trabalho é todo voltado para a sociedade”, encerra Braz, lembrando que o melhoramento genético tem como consequência uma maior oferta de alimento, a custos mais baixos.