Programa executado pela CATI, no âmbito da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, tem transformado vidas, conectando famílias que produzem alimentos e famílias em situações de vulnerabilidade as quais têm nutrição assegurada
O município de Itapeva, com cerca de 100 mil habitantes, é um dos maiores em extensão de área do estado e ostenta o título de grande produtor de alimentos, com diversidade de cultivos: olericultura, grãos, frutas, raízes e tubérculos, bem como de pecuárias de leite e corte. Ao mesmo tempo, como ocorre em outros municípios da região, convive com índices de insegurança alimentar preocupantes.
“Diante desse cenário, sentamos à mesa com a Secretaria Municipal de Agricultura e a Secretaria de Desenvolvimento Social para traçar uma estratégia para implantar o Programa de Aquisição de Alimentos - PAA (programa do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome), que em São Paulo é executado como a política pública do estado PAA Cesta Verde, que liga as famílias que produzem o alimento e as famílias que necessitam“, conta Sandra Maria Ramos, diretora da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) Regional Itapeva, complementando: “O programa teve início durante o momento delicado da pandemia de Covid-19 e, rapidamente, se tornou uma política pública essencial para os agricultores familiares dos nove municípios envolvidos, com geração de renda que contribui para que eles se fixem no campo, propiciando uma produção de qualidade e maior produtividade, com apoio das ações de assistência técnica e extensão rural da CATI dentro e fora da porteira”.
À frente das ações do PAA Cesta Verde na CATI Regional de Itapeva, a engenheira agrônoma Francine Tomaz, ressalta que os dados do Programa, durante as quatro fases de execução são excelentes, mas os resultados vão muito além de números. “Esse programa é um grande transformador de vidas, no campo e na cidade. O produtor rural sente segurança em realizar o plantio, pois a venda da sua produção está garantida a um preço justo; e as famílias em situação de insegurança alimentar a garantia do recebimento de alimentos de qualidade, pois a maioria não tem acesso ao consumo frequente de frutas e verduras, fundamental para a manutenção de uma dieta saudável”, avalia Francine, ressaltando que, até o momento, foram operacionalizados mais de R$ 2 milhões em recursos, adquirimos mais de 500 mil quilos de alimentos oriundos de 239 famílias de pequenos agricultores dos nove municípios.
Sobre o desenvolvimento do Programa em Itapeva, Francine destaca que a execução do Cesta Verde no município de Itapeva tem sido um “casamento perfeito”, existe uma grande sinergia entre os agricultores beneficiários, a prefeitura municipal de Itapeva e a CATI, onde cada um dos atores executa seu papel com excelência. “O Estado faz a Chamada Pública, os extensionistas da CATI informam aos produtores e fazem o cadastro de cada um; e aqueles que obtiverem melhor pontuação nos requisitos solicitados são integrados ao Cesta Verde. Como extensionistas acompanhamos todo o processo, do plantio à entrega dos alimentos, realizamos a conferência da qualidade e quantidade adequadas junto com a prefeitura; depois de atestado o cumprimento de todas as etapas, fazemos a inserção dos dados no sistema, e os produtores estão aptos a receber os valores de forma integral, sem descontos”, explica Francine.
Nestor Renato de Oliveira, secretário Municipal de Agricultura e Abastecimento de Itapeva, concorda com a agrônoma e comemora os resultados do PAA Cesta Verde. “Esse programa é sensacional. Ele dá condições para que os produtores invistam na produção, adotando práticas conservacionistas e sustentáveis que garantem uma produção de melhor qualidade. Mas não é só isso; quando vamos visitá-los constatamos que a renda obtida é investida para melhorias não apenas na sua propriedade e na vida de sua família, com impacto no bairro em que reside, com reflexo para todo o município”.
Para Ivany Maura Santos de Oliveira Dias, secretária de Desenvolvimento Social, o programa é louvável. “São famílias em vulnerabilidade, que recebem alimentos como complementos nutricionais. Nosso trabalho é garantir que esses alimentos cheguem com qualidade para aqueles que precisam e não têm condições de comprar todos os alimentos oferecidos”.
“A sinergia entre a CATI, a prefeitura e os produtores tem sido tão grande, que nos inspirou a implantar uma versão municipal para complementar esse programa, que tem sido uma corrente do bem em nosso município”, avalia Silmara de Oliveira Garcez Santos, coordenadora municipal de Agricultura.
Para Francine, como extensionista, é uma grande honra operacionalizar o PAA Cesta Verde. “Trata-se de um programa que muda vidas, que traz dignidade ao homem do campo, bem como segurança alimentar para quem realmente precisa; é a extensão rural em sua essência e, na prática, transformando a vida das pessoas”.
Bairro dos Lemes: vidas transformadas pela participação no PAA Cesta Verde
Ao chegar ao Sítio da Judith, localizado no Bairro dos Lemes, poderíamos dizer que chegamos à Casa das Cinco Mulheres (parafraseando o romance escrito por Letícia Wierzchowski, a Casa das Sete Mulheres), pois logo na entrada somos recebidos pela agricultora Andreia Aparecida da Roza Rodrigues e suas filhas Andriely, Andressa, Maria Amélia e Lavínia. Mas, logo a seguir, o seu esposo Percy dos Santos Rodrigues surge detrás de caixas e caixas de verduras, nos cumprimentando com um sorriso, demonstrando a alegria de trabalhar junto com a família.
“Hoje, eu tenho orgulho de falar que vivemos 100% da agricultura familiar e produzimos muito em uma pequena porção de terra, mas que é nossa após tantos anos de trabalho duro. Isso é um sonho realizado: viver da nossa produção, das nossas plantas, da nossa lavoura. Mas sem esse recurso que veio do PAA Cesta Verde não seria possível, pois, ao vendermos para atravessador, a gente não ganha quase nada. Este programa que a CATI trouxe para nós mudou a nossa vida. Eu tive as minhas duas filhas mais novas (dois e quatro anos) participando dele e, com a renda pude comprar roupas e tudo o que elas precisaram, assim como manter as meninas mais velhas na escola e ter a nossa casa com dignidade. Somos muito gratos à equipe da CATI”, fala Andreia, com um largo sorriso no rosto e lágrimas de felicidade nos olhos.
Família Roza Rodrigues: Percy, Andreia e as quatro filhas
Sonho transformado em realidade
Com um sorriso nos lábios e um olhar de gratidão iluminado pelo sol que brilha mesmo em um dia de inverno, o casal José Catarino da Roza, 58, e Maria Aparecida dos Santos Roza, 55, inspecionam a construção de um sonho: a casa de alvenaria que trará maior conforto para a família.
Após anos morando em uma casa de madeira, o sonho do casal era construir a casa na propriedade, onde, em pouco mais de 0,3 hectare, produz hortaliças como alface, couve, repolho e outras; frutas como abacate, banana, limão siciliano e maracujá; raízes e tubérculos diversos, como cenoura e cebola. Mas, apesar do árduo trabalho, a renda oriunda de venda direta e pequena participação em programas como o de alimentação escolar não permitia à família investir na construção da casa.
Mas, ao conhecer o PAA Cesta Verde e contar com o apoio técnico decisivo dos extensionistas da CATI Regional Itapeva, o casal vislumbrou a oportunidade de obter renda para construir a sonhada casa e poder receber melhor os amigos e a família. “Quando vimos o valor que cada projeto renderia, vimos que era a nossa oportunidade. Direcionamos a renda obtida com as vendas diretas para a manutenção de nossa vida diária e na condução da horta. Até agora, participamos dos dois projetos de entrega; com o primeiro, conseguimos comprar o material, e, com o segundo, pagar o pedreiro. Hoje, é uma alegria poder celebrar, com nossos três filhos e netos, essas paredes que, logo, logo, serão nosso novo e sonhado lar em nosso sítio. E podemos afirmar sem medo de errar: sem participar do PAA Cesta Verde, seria impossível fazer nossa casa sozinhos”, celebra o casal de agricultores, que trabalha junto desde o plantio até a comercialização de cada produto. “É muito gratificante paranós, que fomos empregados por 35 anos e agora podemos ser agricultores familiares. Produzir alimento não tem preço. A alegria maior é quando o caminhão sai daqui carregado para distribuir para as pessoas que precisam e vão receber alimentos pela mão da gente”.
Da esq. para a dir., Francine Tomaz; José Catarino; Maria Aparecida; Sandra Maria Ramos
A união é a chave do avanço e do sucesso do Programa em Itapeva
O caminhão dirigido pelo sr. Hermes Vianna, funcionário da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Itapeva, há muitos anos, percorre semanalmente estradas de terra e, por vezes, não consegue chegar exatamente no local da retirada dos produtos, pois a geografia local não permite. Mas nada disso impede que, com o esforço conjunto com os produtores, caixas e caixas de hortaliças preencham todo o espaço, as quais já têm endereço certo: a casa de mais de duas centenas de famílias em situação de vulnerabilidade social e entidades assistenciais.
No sítio do casal Percy e Andreia, o relógio passa das 17h e os termômetros estão abaixo de 5°C. Mas, para dar conta de “lotar” o caminhão, o casal, junto com o sr. Hermes e dois parentes, enche as caixas com alface, couve, rúcula, mandioca, abacate, repolho e outras hortaliças e as carregam nos ombros por um caminho íngreme por mais de 500m. “Para nós, é uma alegria muito grande ver essas caixas cheias − fruto do nosso trabalho, da terra que sonhamos tanto em ter −, e saber que alimentarão famílias como a nossa”, celebra emocionado o casal.
Depois de sair do sítio da família Roza e buscar mais produtos em outras propriedades, o sr. Hermes chega ao galpão da Secretaria Municipal de Agricultura, onde a engenheira agrônoma Francine, da CATI Regional Itapeva, acompanha a pesagem dos produtos, avalia a qualidade, a procedência, a separação e o envio para cada unidade de distribuição à população.
Centro de Referência Social: Cesta Verde garante segurança alimentar para dezenas de famílias e crianças
A entrega está programada para 14h, em uma tarde de muito frio no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – Carlos Celestino dos Santos, base para entrega dos produtos do PAA Cesta Verde no bairro Jardim Kantian. Apesar de o relógio na parede marcar 13h30, já é possível ver o movimento de famílias, principalmente mulheres, idosos e crianças, com carrinhos de mão, bolsas, sacolas, carrinhos de bebê, bicicletas etc., formarem uma fila ordeira e enorme nos portões da entidade.
Débora Joseane de Oliveira Alves, coordenadora da Unidade, faz o anúncio da chegada dos alimentos minutos antes pelo grupo de WhatsApp mantido entre a instituição e as famílias beneficiárias. “Em nossa unidade, desenvolvemos um projeto de atividades extra-curriculares para alunos de escolas públicas e famílias de baixa renda permanecerem no contraturno das aulas. Além de grande parte dessas crianças serem atendidas com os alimentos em casa (a maioria é filha de beneficiários cadastrados na Secretaria de Desenvolvimento Social)”.
A dona de casa Regina de Fátima Sant’Anna de Almeida é uma das primeiras da fila. Com um carrinho de bebê e muitas sacolas, declara que essa é uma espera feliz. “O dia de buscar os alimentos aqui é uma alegria para toda a família, que tem crianças e idosos os quais agora podem comer frutas e verduras. Desde que começou este programa, a gente está comendo melhor. Comprar esta quantidade de verduras, frutas e mandioca, tudo fresquinho, não seria possível para a gente, porque a nossa renda é pouca e as coisas estão caras no mercado. Somos muito agradecidos a todo mundo que faz esse bem para a gente. E aos produtores que plantam para a gente comer!”.