Pouco conhecidas ou deixadas de lado, as PANC despertam curiosidade e paladar, abrindo caminho para novas descobertas à mesa
Mais do que um ato de sobrevivência, o ato de comer carrega, em si, a cultura, a identidade e o convívio de uma comunidade. O antropólogo francês Claude Fischler resume essa ideia ao afirmar que “alimentação é convenção” - cada sociedade define o que é comestível, o que é apropriado e o que é proibido.
Entre o que a nossa cultura consagra como “comida” e o que foi devorado pelo tempo, estão as PANC, acrônimo para “Plantas Alimentícias Não Convencionais”. Muitas vezes tratadas como “mato”, já ocuparam espaço importante na mesa de gerações passadas. Entre as mais difundidas, estão a taioba, a capuchinha, a serralha, o caruru, a vinagreira, mas são mais de 350 no Brasil, de acordo com Valdely Kinupp, em seu livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANC no Brasil”, publicado em 2014.
Elas são fonte de nutrientes, sabor e diversidade alimentar, preciosidades afastadas do cotidiano muitas vezes pelo costume e pela lógica de mercado. Também conhecidas como hortaliças tradicionais, são as comunidades rurais e tradicionais que ainda guardam o saber sobre como identificar, cultivar e preparar essas plantas.
Algumas PANC nascem espontaneamente pelos campos e quintais; outras já se adaptaram bem ao cultivo agrícola e podem contribuir para a diversificação da produção. Por não integrarem grandes cadeias produtivas, muitas acabam esquecidas, embora apresentem alto valor nutritivo e enorme capacidade de adaptação a diversos solos e condições climáticas.
Falar das PANC é resgatar sabores, mas vai além: é mudar a nossa forma de entender e pensar sobre o que comemos. O engenheiro agrônomo da CATI, Osmar Mosca Diz, encara a disseminação do uso das PANC como parte fundamental de seu trabalho de extensão rural. Responsável pelo Centro de Educação Ambiental Fazendinha Feliz, em Campinas, que abriga uma horta com plantio de diferentes PANC, ele elenca, entre as qualidades dessas plantas, seu altíssimo desempenho e a capacidade de produzir material alimentício em situações precárias. De forma geral, as PANC se adaptam bem a quase todos os tipos de solo e clima brasileiros, devido, principalmente, à sua habilidade de se desenvolverem em situações de, até mesmo, alta acidez do solo e escassez hídrica.

“Por sua rusticidade e facilidade no cultivo, as PANC vão muito bem em sistemas agroecológicos de produção orgânica, em consórcios com praticamente todas as demais culturas, respeitando-se o ciclo e o porte de cada planta do sistema. Vale frisar que os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são geralmente planejados de maneira a incluir essas plantas; um uso possível e recomendável”, comenta Osmar.
Seu cultivo dispensa insumos químicos ou pesticidas e é considerado fácil, por seu alto desempenho agrícola. “Alguns cuidados são necessários, no entanto. A ora-pro-nóbis e a moringa, por exemplo, requerem planejar as podas visando facilitar as colheitas. O peixinho, por ser uma planta um pouco mais delicada, também requer cuidado no desbaste e regularidade das colheitas”, exemplifica.

Na sequência, as imagens apresentam acima a taioba; no meio, a ora-pro-nóbis; e abaixo, o hibisco-roxo
Osmar reforça a importância de transformá-las em preparos variados, como conservas, farinhas, em pães enriquecidos, mingaus, tortas, refogados ou sucos.
No dia 16 de outubro próximo, Dia Mundial da Alimentação, a CATI lança o “Documento Técnico 136 – PANC”, durante a 30.ª Semana da Alimentação, na sede da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado, em São Paulo. O lançamento acontecerá durante a Entrega do Prêmio Josué de Castro. As inscrições podem ser feitas pelo: http://bit.ly/30semanaali.